15.11.22

Instruções ao Pensador II

Em Instruções ao Pensador I, René Descartes foi colocado em evidência na introdução daquele conteúdo, segundo sua asserção, qual seja: penso, logo existo; mas sem entrar no mérito. Agora, seria importante apresentar algumas reflexões aproximadas ao pensamento enquanto resultado da inexistência metafísica.
Ricardo I em Marcha para Jerusalém
Rembrandt. Filósofo em Meditação.
1. Inicialmente, cumpre elucidar a questão do existir condicionado ao pensar. Parece que tal alegação não encontra sustentação, uma vez que ignora a origem do homem desprovido do saber sobre as coisas. Seriam os bebês meras ficções? Mas não era seu ponto a prole ou as crianças como adultos em progresso, mas o ser crescido, provado na existência.

2. Acontece que o ser provado na existência não necessariamente tem pensamentos, embora não possam ser notados como desprovidos de racionalidade. Não! René Descartes quando afirma o existir no pensar, subsidiou a observação, porventura, daquelas pessoas em condições instintivas, desprovidas de percepções até mesmo acerca do próprio arbítrio.

3. Noutros termos, quando alguém apenas tem reações pelos sentidos, termina como produto do meio onde vive ou sobrevive. Pensar, portanto, colapsa no reagir e a reação não tolera o pensamento por não lhe dar conveniente tempo e espaço para existir diante da necessidade instantânea de responder com aquilo que estima ser próprio, mesmo não sendo.

4. Se as pessoas tão somente respondem aos estímulos que lhes são projetados, porém, beirando uma condição semelhante a dormência da consciência na supressão do intelecto pelo domínio dos instintos, poder-se-ia justamente afirmar que quem não pensa não existe. Afinal, parece que não têm qualquer ideia sobre o que são.

5. René Descartes ao cogitar intenta provar ser Deus uma ideia? Não! Porém, conclui que não poderia o homem conceber o ilimitado através dos próprios limites, donde o divino é verdade que fundamenta o pensamento dotado desta porção, mas sem que lhe pertença a totalidade do verdadeiro, pois seria igual a criatura instrumentalizar seu criador.

6. Lao Tsé (531 a.C.), filosoficamente, blindou a essência do criador ao atestar que o Tao que é expresso não é o Tao permanente e que a pretensão de vislumbrá-Lo só concede perceber Seus contornos, enquanto sem pretender Ele permite vislumbrar sua majestade, explicando que Tao foi justamente o caractere utilizado para designar aquilo que não lhe era próprio.

7. Sendo-lhe próprio, como dito, jamais seria eterno (paradoxo), assim como René Descarte conclui que não poderia ser aquela porção do pensamento a ideia de Deus, mas uma parcela daquilo que Ele deu aos homens como seres criados conforme Sua imagem e semelhança. Mas não parece ser passível às criaturas pensar sem que existam.
Assim é que a inexistência da metafísica [...] condenaria o pensamento ao colapso e consequentemente a própria vida consciente.
8. Então o existir é a medida do pensar, mas não nos sentidos reativos, limitadíssimos as circunstâncias donde se inserem os homens. Assim é que a inexistência da metafísica, tratada aqui como fenômeno com propósito mais pedagógico ao invés de unicamente filosófico, condenaria o pensamento ao colapso e consequentemente a própria vida consciente.

9. Portanto, porém, jamais sem esgotar tal questão, existir e pensar se relacionam, conquanto o pensamento não sobrevenha das respostas sensitivas, imediatas pela impressão de conjunturas que não são dominadas pelo intelecto que busca a razão, mas dos domínios instintivos, sobressaídos de um subsequente inconsciente.
    Para referenciar esta postagem:
ROCHA, Pedro. Instruções ao Pensador II. Enquirídio. Maceió, 15 nov. 2022. Disponível em https://www.enquiridio.org/2022/11/instrucoes-ao-pensador-ii.html.

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